A experiência de leitura de um século aposentado – Crônica por Lucian Brum


Arte: @x.loremipsum

Saí do café Aquários e passei desatento pela vitrine da livraria Mundial. Caminhava com calma, de mãos no bolso, reparando na gota de café que havia pingado no meu sapato. Um hippie, sentado no chão, vendia artesanato para dois jovens que manuseavam piteiras de bambu. Até então tinha sido um dia corriqueiro, mas quando cheguei na esquina e bati os olhos na banca de revistas, li as letras garrafais do título – Piauí.

Há meses a revista não circulava em Pelotas, tanto ela quanto outras, com suas distribuições incertas, não chegavam ao “centro de outra história”. O mercado de notícias a varejo foi escasso no decorrer da pandemia. Os jornais de domingo, eram disputados por quem acordava cedo, a maioria comprados em fruteiras. Não houve outra alternativa, para ler reportagens, era preciso mudar de século.

A palavra escrita, impressa, é uma experiência do século passado. O diálogo humano hoje é editado para esse dispositivo móvel em que estás lendo agora. Não há mais possibilidade do jornalismo e da literatura, nos seus formatos em papel, se tornarem popular.

A Piauí chamou atenção dos leitores pelo tamanho, acho que é maior que um tabloide. Uma revista para se ler confortavelmente sentado. Daquelas em que alguém entra na sala e te enxerga escondido atrás das páginas. Uma cena típica de quem coleciona selos, pode passar o dia de pantufas e já preencheu o tempo de contribuição da previdência.

Por: Lucian Brum (@brumlucian)
Imagem/Arte: @x.loremipsum

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