Olho com atenção tudo o que pode ser visto. Fachadas, telhados, portas, janelas, cartazes, letreiros comerciais – luminosos ou não, buracos na rua, bueiros, latas de lixo, o chão que piso, passarinhos bebendo água, e principalmente pessoas. Na verdade o essencial é invisível aos olhos, grande Exupéry. Sei que o entusiasmo é uma mania, uma crise, mas só posso gostar de pessoas que, a qualquer hora do dia ou da noite, enlouquecem de alegria porque no cinema da esquina está passando um filme do Buster Keaton, ou algo assim. Em todo caso, procurei sempre pessoas que, a cada cinco minutos inventam o submarino ou o aeroplano, que não podem ver um folha de papel sem recortar um coelhinho, que cozinham botando mel no lugar de azeite para ver o que acontece com as costeletas de porco, e que a qualquer momento está disposto a fazer qualquer merda. Deitar olhando pro céu, passear de bicicleta por ruas desertas, ler um livro tropeçando pelas calçadas, sentir o vento no rosto em uma tarde amarelada, inventar histórias, dançar no meio da rua, observar borboletas, ver crianças brincando, andar até o amanhecer – errância distraída, coisas sem importância.
Isis Araújo
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.