Sou um atleta frustrado. Culpa da professora de piano, que me deixou traumas de infância com suas convicções radicais contra os esportes, que ela chamava de “práticas primitivas”. Pela vida afora, tenho usado essa desculpa para justificar minha preguiça para atividades físicas.
Há pouco tempo, por orientação do meu clínico geral, me inscrevi numa academia de ginástica. Academia de ginástica é um templo sagrado onde os fiéis, sob as bênçãos de Adônis, se dedicam a lapidar o próprio corpo como se fosse um bloco de mármore de Carrara. Ao chegar para a primeira aula, me entusiasmei ao ver tanta gente bonita e saudável. Achei que o sacrifício valeria a pena.
Passei por uma avaliação e o professor me cumprimentou: “Parabéns! Você tem índice de gordura igual ao do Michael Jordan: zero”. Quando fui começar a festejar ele me interrompeu: “Em compensação, tem índice muscular igual ao do Michael Jackson”.
São coisas como essa que desestimulam a gente. Às vezes, uma piadinha qualquer pode jogar um sujeito no chão. Eu sei que foi apenas uma brincadeira, mas naquela noite não consegui dormir.
Quando voltei pra casa, ainda humilhado, estava passando na TV um documentário que mostrava a cerimônia de encerramento de uma Olimpíada. Fiquei imaginando onde eu poderia me encaixar naquela festa e o único lugar que encontrei foi uma fantasia de Mariachi.
Troquei de canal pra tentar esquecer o mundo dos esportes e apareceu um vídeo clipe do Michael Jackson, um sujeito que nunca participou de uma competição esportiva por falta de índice. Índice muscular. Lembrei da cara do professor rindo de mim e perdi o sono. Tive que tomar um comprimido, eu precisava dormir. No dia seguinte cedo, tinha academia.
Dentro da minha capacidade obtusa de reflexão, não consigo entender qual é a graça de puxar ferros, correr numa esteira rolante e pedalar numa bicicleta que não sai do lugar. Não vou para uma academia de ginástica por prazer, cumpro a missão como se fosse uma penitência. Em troca, espero ganhar um pouco de saúde. E aumentar minha massa muscular, pra não ter que ficar ouvindo piadinhas.
Meu consolo é que meu filho é um ótimo jogador de futebol. Comentei com a professora de spinning e ela disse que o garoto deve ter puxado à mãe. Engraçadinha! Pura maldade. Estou começando a ficar cansado dessas ironias. Acho que vou trocar de academia
Texto: Kledir Ramil
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Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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