Da união de duas estudantes pelotenses e uma paulista nasce mais uma força criativa no cenário artístico local – e nacional. De uma casa-estúdio no porto, Mariana Holman, Bruna Britto, e Gabriela Godoi (de Piracicaba), aliadas há meros três meses, atacam em várias frentes: graffiti, design, fotografia, moda, entre outros. Atendendo agora por Coletivo Sou, o trio tem agenda cheia e planos ambiciosos para o futuro. Um deles, abrir uma parte da casa para oficinas e exposições – em menos de um mês.
A “parte casa” da casa já parece uma galeria. A extensa decoração inclui peças das garotas – pinturas, objetos, móveis restaurados – e obras em andamento, como um cenário sendo costurado para um teatro de bonecos. O som na sala é compartilhado, aparentemente sem grandes conflitos. Tanto que veio da música o nome do Coletivo. “Eu dizia ‘eu queria uma coisa pequena que defina, eu sou o que?'”, lembra Mariana. “Depois a Gabi lembrou do CD do Marcelo Camelo que a capa era ‘sou’ e quando invertia ficava ‘nós’. Ela me mostrou e eu disse ‘é exatamente isso'” No momento, a trilha sonora da casa passa pela “fase do Criolo”, diz Bruna.
O encontro do que viria a ser o Coletivo Sou se deu no curso de licenciatura em Artes Visuais da UFPEL, onde as três eram colegas e do qual já sairam. Gabriela, 23, “fissurada pelo sul”, veio para Pelotas fugida do Design Gráfico, para o qual voltou depois, já na UFPEL. Ela ainda é colega de Mariana, 27, formada em Design de Moda pela UCPEL e especialista em Comunicação e Marketing, que fez a mesma troca. Bruna, 20, que tem a própria marca de restauração de móveis, a Mandala, trocou a licenciatura pelo bacharelado.
Mudar o mundo e se divertir
Os caminhos e especialidades distintas se encontram no desejo de criar. “Depois de estudar um monte de teoria e um monte de coisa, a cabeça da gente fica cheia e a gente quer mudar o mundo. Pelo menos o mundo a nossa volta”, reflete Mariana. “A nossa ideia é tornar a nossa vida mais divertida, e a vida dos outros também”. “E ganhar alguma grana”, completa Gabriela. “Sim, se a gente tinha vontade de fazer isso, porque não viver disso? Porque as pessoas às vezes nos dizem ‘ah, vocês não vão conseguir viver de arte’. Mas a gente acredita que vá. Até porque a gente não precisa de muito”, prossegue a colega.
Carroça e sinais
A formação totalmente feminina fornece o que Gabriela considera “uma sensibilidade diferente das coisas”. Ela e Bruna, adeptas da arte urbana, sentem essa diferença e sentiram em uma das primeiras aparições públicas do Sou. Elas participaram da versão carioca do Pimp My Carroça, conjunto de ações em benefício dos catadores de material reciclável, incluindo a repaginada no instrumento de trabalho. “Nós fomos as únicas mulheres e as únicas a usar pincel, então ficou diferente. Foi muito legal a experiência. Pra começo de projeto também foi muito bom, porque a gente já foi pro Rio, conheceu um monte de gente”, conta Bruna.
A arte feita na carroça gerou comoção nos donos, um casal. “O Valdir (catador) até falou ‘eu não vou usar isso na minha carroça. Isso aqui vai na minha casa, no meu quarto”, conta Gabriela. O tema utilizado na pintura, a linguagem de sinais, é uma obsessão antiga da piracicabana, que rendeu mais um projeto ao Coletivo. Ela entrou na Escola Alfredo Dub para ter aulas de libras e resolveu chamar as colegas para pintar. “É uma mudança estética geral que a gente vai fazer”, diz Mariana.
Criando uma identidade
Enquanto as colegas estavam no Rio, Mariana apresentava os produtos do Sou no projeto de moda e arte InVisto, da UFPEL. Atualmente, elas expõem na Feira Bem da Terra. Mas agora o foco é na casa. “A gente não sabe muito bem como vender as coisas em separado, porque todas têm um conceito junto. Por isso a gente quer fazer o estúdio, assim a gente pode vender e mostrar os nossos produtos todos num espaço que tem coerência”, ela explica.
Na preparação para a inauguração do espaço, na criação de desenhos, produtos e do site do Coletivo, em qualquer cidade que as receba (elas estiveram em Porto Alegre nesse fim de semana, participando de um projeto da CEEE), elas vão formando e descobrindo quem são. Para Gabriela, “como faz pouco tempo, a gente tá criando uma identidade do Coletivo. Pra pessoa olhar e dizer ‘aquilo lá é do Coletivo Sou'”.
Texto: Roberto Soares Neves
Fotos: Arquivo Coletivo Sou
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