Festival acontece no YouTube e incentiva a produção de filmes durante o isolamento social, com destaque para uma produção realizada por pelotenses.
Transformar sentimentos em obras de arte e estimular a produção audiovisual em tempos de isolamento social. Esse foi o mote escolhido pelos estudantes de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio, Mateus Rocha e Lara Sampaio, para o lançamento do Quarentena Online Film Festival, ou simplesmente QOFF.
Totalmente virtual, exibido no YouTube, o formato diferenciado se adequa às transformações que estão acontecendo no setor audiovisual devido à pandemia. Recentemente, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou que a próxima edição do Oscar aceitará inscrição de filmes exibidos apenas pela internet, uma vez que as produções não podem ser exibidas nas salas de cinema.
Para colocar em prática a proposta do evento de incentivar a produção de filmes durante a quarentena e em casa, o projeto foi executado de forma colaborativa. Os participantes puderam, desde o início, interagir e tirar dúvidas por meio de uma comunidade no WhatsApp, que também exerceu o papel de distribuidora de conteúdo. “O propósito primordial do QOFF é dar visibilidade a essas pessoas e sem restrição para formatos e tempo de duração dos filmes”, diz Mateus Rocha. “Demos prioridade à liberdade de criar e o externar das angústias deste tempo estranho que estamos vivendo.”.
O QOFF abriu espaço para novos formatos de produção que normalmente não são contemplados em festivais mais tradicionais, como vlogs e IGTVs. Foram inscritas 47 obras, a maior parte de São Paulo, seguido por Rio de Janeiro. Mas há, também, inscritos de diversas partes do mundo – Colômbia, Espanha, Portugal, Inglaterra, Irlanda e Alemanha. Os participantes têm entre 18 e 56 anos, e atuam em diversas profissões na área de Cinema e Audiovisual.
O site E-cult destaca a produção, que participa do Festival, realizada pelos gaúchos Charlie Rayné, Guilherme Larrosa e Helena Prates e pela carioca Rosane Muniz, o curta: “Amor da minha live”, que conta a história de Jane e Edgar. Os dois personagens, separados pelo Corona Bear, discutem sua relação com a ajuda da amiga Gloria. Além de enfrentar a quarentena, o casal precisa superar suas diferenças para resgatar o amor de suas “lives”.
Naturais de Pelotas, Charlie e Helena são amigos desde a época do Teatro Escola de Pelotas (TEP), formados em Comunicação Social pela UCPel mudaram-se para Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente. Rayné acabou retornando à Princesa do Sul anos mais tarde, onde reside atualmente e leciona teatro, publica seus livros e dirige suas produções. Helena ainda reside em São Paulo, tornou-se cineasta premiada internacionalmente e é também pesquisadora e criadora do audiovisual.
Os dois tiveram a ideia de escrever sobre uma relação em épocas de confinamento, quando souberam do Quarentena Film Festival. Convidaram a atriz, escritora e doutora em figurino teatral pela USP, atual professora, entre outras instituições, da pós-graduação em Design Cenográfico da UFRGS, Rosane Muniz, que participou juntamente com Charlie e Helena na criação do roteiro e direção de “Amor da minha live”. Os três amigos também atuam no curta, Charlie interpreta o confuso Edgar, Helena dá vida à séria Jane, e Rosane vive a alegre e divertida Gloria.
A edição e finalização de arte do projeto contou com a importante colaboração do jaguarense Guilherme Larrosa. Formado em Arquitetura e Urbanismo também pela UCPel, trabalhou como Visual Merchandiser e criação de espaços interativos e multimídia, começando sua carreira no audiovisual em TV, séries e filmes do cinema brasileiro. Atualmente, estuda um Master de Desenho Interativo em Buenos Aires, tendo em sua bagagem a participação na equipe de Arte do premiado longa Bacurau, vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019, entre prêmios em diversos festivais como Munique, Lima e Sitges.
“Nosso maior desafio foi criar dentro de casa, quesito essencial do Festival. Por isso, utilizamos o aplicativo Zoom e o usamos como base das filmagens”, afirma Helena. “Conhecer novas ferramentas é urgente e necessário. Gravar pelo zoom trouxe a possibilidade de experimentação e fez com que nós criássemos algo de forma muito orgânica, que realmente trouxe alívio e realização no meio desta quarentena de tantas dúvidas” ressalva Rosane. Para ela, “A Gloria nasceu naturalmente nesse período turbulento pelo qual o Brasil e o mundo passam. Ela é otimista e quer escolher os caminhos certos, mas acaba se confundindo toda e não se comprometendo muito. Interpretar a Gloria vem como um desabafo em tempos que é preciso rir, rir também irresponsavelmente, para tentar manter a sanidade”.
“O Edgar representa aqueles que não queriam acreditar na pandemia, que concordavam que era só uma gripezinha, mas acabaram se dando conta da complexidade do problema que enfrentamos.” disse Charlie Rayné em conversa ao E-cult. O ator ainda falou que “gravamos separados, cada um em sua casa, isso foi realmente desafiador. Mas ainda mais desafiador é a situação atual da cultura no Brasil, por isso, é tão louvável um festival como o Quarentena, que incentivou a criatividade neste período tão estranho”. “Nosso próximo passo agora é transformar o curta em uma série, e já estamos trabalhando nos próximos episódios”, conclui Helena.
O Festival será exibido até o dia 27 de maio, no canal do YouTube Quarentena Film Festival.
Aproveite e confira o curta “Amor da minha live”:
Todos os 86 participantes da comunidade Quarentena fazem parte da banca avaliadora. Cada um deles poderá votar em até cinco filmes por categoria, que somam 17. Desde as mais tradicionais como Fotografia e Roteiro, até as inusitadas como Rio de Lágrimas, para os filmes emocionantes, Prêmio Cardio, para as obras que aceleraram as batidas do coração, e Prêmio StayAtHome, para aquelas que melhor entenderam o conceito do tema do festival.
O público poderá votar na categoria Júri Popular por meio de um formulário de votação disponibilizado aqui, até 27 de maio. A cerimônia de premiação será no sábado, dia 30 de maio.
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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