Comportamento e música por Daniel Balhego


Uma banda é como um casamento, ou seja, a relação pode durar para sempre ou ser interrompida por um litigioso e dolorido divórcio. Desde que resolvi entrar de cabeça no universo da música venho me dando conta disso, de como são complexas as relações humanas, como é complicado lidar com opiniões alheias e como o ser humano pode ser cruel quando as coisas não ocorrem de acordo com aquilo que deseja. Fazer parte de uma banda, independente da sua natureza ou estilo, numa cidade interiorana, e sobreviver do trabalho dentro da cadeia cultural é um ato heroico para qualquer um. Desconheço quem tenha alcançado êxito sem ter se doado ao extremo, ter feito algumas renúncias, apostado em projetos impossíveis e principalmente seguido o que o coração manda, e às vezes parceiro, teu coração, guiado pelas exigências que a música enquanto profissão manda, te leva a tomar decisões polêmicas e contraditórias. Uma banda é, além de um pacto conjugal, uma empresa que lida com altos índices de falência e competitividade e sendo assim ela não permite que se pare no meio do caminho para pensar o que fazer; cair nesse vício é o passo inicial para um desligamento involuntário do grupo, tal qual ser demitido de uma função que você acha que está desempenhando de forma satisfatória; para que isso não aconteça penso que o profissional deva fazer o máximo para ser indispensável, pois insubstituível ninguém é.

 

Geralmente se paga muito caro para ter e agir com firmeza e autenticidade, paga-se mais caro ainda por falar o que se pensa e o que se sente, porém não quero ter que sofrer as consequências de um silêncio covarde, não aceito a ideia subjetivada na infame frase “quem fala o que quer ouve o que não quer”; pago o preço que for para ter o direito de falar o que preciso mesmo correndo o risco de ouvir aquilo que não mereço. Jamais a omissão; a verdadeira arte não floresce na mão do omisso, do mentiroso e do covarde. Por isso eu digo, inspirado por Fernanda Montenegro, que antes do indivíduo pensar em ser músico que tente ser aquilo que seus pais querem: médico, advogado, administrador de empresas, agrônomo, etc. Não que eu pense que o campo das artes devam ser restritos aos que têm formação específica, até porque não é o meu caso – não sou bacharel em música por pura incompetência, mas vejo muito a ocorrência de pessoas que involuntariamente acabam atrapalhando quem quer trabalhar sério e viver da música. Imagine se todos os músicos resolverem ser jornalistas, teremos provavelmente uma queda de qualidade e um colapso do mercado pela desvalorização em termos financeiros, pois conhecemos a lei da oferta e da procura. Essa é a realidade de hoje, temos abundância de novos artistas, aventureiros, que querem apenas mostrar seu trabalho. Eu vos digo: se pretendem mostrar o trabalho organizem um churrasco com os amigos, procurem eventos beneficentes; atualmente não existe melhor espaço para se mostrar o trabalho do que o meio virtual. Não é a mim que pertence o direito de atuar profissionalmente, mas acredito que existe uma boa parcela de artistas que concordem com a minha opinião, que podem estar deixando de alimentar seus filhos ou até seus piores anseios consumistas pelo simples fato de que alguém foi lá no contratante e ofereceu o trabalho quase ou totalmente de graça. Talvez isso mude, talvez eu esteja errado, talvez você deva recomeçar essa leitura. Uma certeza eu tenho, não é fácil a vida de artista.

Quando comecei, amadoristicamente, ajudando uns amigos a carregar caixas, montar cabos conectar caixas Fhram, mal existiam compact discs.

Um guerreiro não desiste Quem apanha não esquece
Vence aquele que persiste O que sobe um dia desce
Mas não quero ver-te triste Um novo dia amanhece
Vai avante o punho em riste Peça paz a Deus em prece

Daniel Balhego
Turismólogo / Músico
twitter.com/danielbalhego
www.dasilvanaweb.com

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