Crônica: Coletivo Cult por Márcio Ezequiel + Fotos


Foto: Juliana Charnaud

Pelotas está vivendo um renascimento cultural. Claro que dá um medão danado de fazer uma afirmação dessa categoria. Porque receitas que surgem sem gás ou tempero acabam cruas ou sem gosto. Mas já estamos fartos de ter medo de dizer as coisas. Sim, a cidade está vivendo um renascimento cultural e ponto. E ponto, não! Reticências… Vamos propagar o cardápio. Polvilhar sabores sem receio de errar a mão.

O novo espaço cultural de Pelotas, tocado pelos irmãos Reichow, máfia e Cia é um prato cheio. Recebeu nome apropriadíssimo – Coletivo Munaya. Na última quarta-feira (09), quem esteve presente à quinta edição do Cult Festival no casarão da Tiradentes, 2.332, fartou-se. Experimentou a diversidade cultural que fervilha na cidade à espera de espaços como este para juntar companheiros de panela. Coletivo quer dizer algo que abrange muitas coisas ou indivíduos da mesma espécie. Munaya (ou munaia) significa coisa ou pessoa grande. E tinha muitas coisas e pessoas por lá.

À entrada, com os quadros nus (e nada crus) de Helena Badia, sacava-se estar visitando uma cocina cult. Em tudo. Dos quitutes veganos da Lúcia Badia à moda alternativa da costura de Sinara Siqueira. Dos acordes musicais às camisas de rock da Munaya Monsterwear, do Cris, tudo cai como uma luva de pelica sintética, (ou de boxe), fugindo do insosso lugar-comum.

Estiveram lá, Deco Rodrigues (E-cult), Aline Maciel (Piquenique Cultural), Cíntia Langie (Moviola Filmes), Ruan Libardoni (guitarra e voz da Vade Retrô), Ottoni de León (baita baixista, Pimenta Buena) e por aí vai, só engrossando o caldo cultural – sem nada de origem animal, claro. No pátio criou-se um clima “catedral multimídia à luz de velas”, com cadeiras e sofás. À projeção do ensaio de Vicente Pimentero, do interior do estúdio na casa, intercalava-se a excelente discotecagem da DJ Helô. Acrescentem-se, ainda, as recitações do Projeto Poesia no Bar. Com apresentação de Daniel Moreira, pequenas doses poéticas foram servidas por Valder Valeirão, Ediane Oliveira, Lúcia Marques entre outros, inclusive o artista aqui, pois antes que esqueça de citar alguém, trato logo de contar que improvisei o seguinte poema.

“Queria trazer hoje um texto provocativo, bem escrito. Com ideias irreverentes. Anarquistas. Submundanas. Catadas pelas ruas da Dark City. E que fosse uma digressão erudita. Psíquica. Hermética. Claustrofóbica. Proparoxítona. Queria manipular essências naturais e colher plantas exóticas e ervas aromáticas nos cordões das calçadas descalças do porto. E rir dos bueiros desdentados e das portas lacradas com tijolos de seis furos nas casas tombadas. Sonhava com achar o sentido das coisas. O devir… o devir! Mas fui interrompido pelo dever. Lembrei que tenho que pagar o caderninho do Munaya e três meses de condomínio atrasado!”

Falei e tá falado! Salve o coletivo e segura a cultura pelotense, gurizada!

Por: Márcio Ezequiel, Historiador e escritor – www.marcioezequiel.com.br
Fonte: diariopopular.com.br

Fotos: Juliana Charnaud
Acad. Artes Visuais Bach./Monitoria/ALEF/C.A.