Cultura Para Quem?


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Muito se discute em integrar o povo à cultura, resgatar suas raízes culturais e inseri-lo aos meios artísticos… Mas a cultura é feita por quem? As políticas culturais, pelo que notamos, estão abrindo possibilidades “Pró-Cultura”, embora a maioria da população brasileira nem saiba o que isso significa. Assim, surge mais uma pergunta: a cultura é feita para quem?
Quando se fala em cultura erudita ou alta cultura, entende-se por uma expressão artística resultante de uma exteriorização emocional e estética conseguida através de um processo técnico e intelectual.
Por outro lado, cultura popular tradicional entende-se como o corpo de expressões artísticas resultantes da exteriorização de emoções e momentos cruciais de um povo.

Hoje, a máquina de entretenimento comercial apoderou-se do espaço que antes era reservado à expressão popular artística, levando a uma confusão constante entre um discurso genuíno, peculiar, antiqüíssimo, e outro descartável, construído para viciar o consumo, uniformizar gostos, exterminar individualismos estéticos e potencializar um mercado.
A alta cultura, a música erudita, o teatro clássico e moderno, a nova e antiga dança, a literatura, as artes plásticas, enfim, não são produtos para entretenimento à população em geral: a cultura erudita abre portas a quem a ela tem acesso, e promove liberdade intelectual a quem é capaz de apreendê-la.

As tais elites têm e sempre terão acesso a uma educação para a alta cultura. Caso assim o desejem, possuirão necessariamente recursos econômicos e sociais que lhes permitam manter um contato privilegiado com a arte. A única forma de democratizar e evitar esta quase fatalidade é promover um acesso generalizado à alta expressão artística, a essa mesma educação exigente para a interpretação estética. Sem uma Política social e cultural séria, tal acesso massivo não poderá ser nunca uma realidade, quer pelos custos que a produção artística implica, quer pela renitência com que o dito “povo” encara a cultura erudita.

O quê, afinal, quer a política de um país (sim, falo diretamente em política, pois ela incorpora o absolutismo contemporâneo)? generalizar o consumo cultural erudito, igualando assim as oportunidades de desenvolvimento intelectual e deixando de dar preponderância a uma elite, ou, por outro lado, “dar ao povo o que o povo gosta”, contribuindo para a manutenção do obscurantismo massificado, para o alheamento social, premiando a preguiça intelectual e a alienação generalizada em relação aos confrontos estéticos e políticos, cuidando na prática, da manutenção de uma elite?
Vale-Cultura, Vale-Livro, Vale-Fome… medidas provisórias (válidas?)… até quando?

Urge uma política com a iniciativa de mapear as ações na base, do micro para macro – ao contrário do que ocorre atualmente – para que nesse processo ocorra total inserção e integração sócio-cultural.

Isis Araújo
www.culturahiperativa.blogspot.com