O abridor encaixou na tampa de metal e o pulso em movimento de alavanca fez abrir a garrafa. O gargalo roçando na borda do copo, despejou o líquido louro e espumoso. Levei o copo à boca e sorvi um gole generoso, que caiu na garganta em temperatura abaixo de zero – um prazer inquestionável. Olhei pela janela e a impressão de que vapor saia do asfalto seguia nítido, o sol caía atrás dos prédios. Preguiçosa, a noite ia chegar devagarinho com atmosfera em mormaço.
O bar não demorou a ficar lotado. Foi preciso juntar algumas mesas, abrir outras cadeiras para acomodar o pessoal. Ruídos de conversas e gargalhadas preenchiam o ambiente carregado de ansiedade. Aquele momento confortável estava sendo arrancado do fundo de almas angustiadas pelas restrições sanitárias, e pelo inverno.
Amigos bebiam goles longos e repetiam o comentário: esse é para tirar o mofo. Pairava no ar a constatação de que em dias de calor ostentamos disposição, ânimo, e vontade de viver. Na turma do canto da porta, um rapaz vestido inteiramente de branco, com o pensamento iluminado pela cerveja, bateu com a bunda do copo na mesa, sofreu algum tipo de epifania e gritou: é isso, vai ser 31 de dezembro, a gente dirige até o Chuí, compra tudo lá e…
Nada melhor do que uma roda de amigos para se fazer planos, mesmo que a instabilidade atual possa ruir com o combinado. É incalculável o número de ideias e de decisões pessoais que tomamos rotineiramente, deixando aparente o caráter incontrolável da vida. A construção de momentos alegres inspira confiança na lida dia a dia, na criação de afeto. E logo após a labuta, em dias quentes vamos direto ao bar.
Por: Lucian Brum
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Jornalista.
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