Guido CNR apresenta disco novo celebrando duas décadas dedicadas ao Rap


Foto Divulgação
Há mais de 20 anos “vivendo o Rap todos os dias”. Assim, Leandro Fagundes, o Guido CNR, chega aos seus 40 anos com o disco novo. Batizado de ‘04.03.80’, o trabalho foi lançado na data de seu aniversário e ajuda a contar um pouco de sua trajetória, que por vezes se confunde com a história do próprio Rap pelotense.
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Capa do disco

O disco conta com várias participações especiais, como Zudizilla, Zombie Jonhson, Pok Sombra e Fill. Inicialmente seria um EP colaborativo, mas a coisa foi crescendo. “Fui sentindo falta de pessoas, fui chamando e chamando e virou um disco”, conta Guido em conversa com o e-cult.

No mesmo dia que o disco chegou as plataformas digitais também foi lançado o clipe para faixa ‘Fogo’. O som conta com participação de Pepzi e Pok Sombra e o vídeo, parceria com a produtora A Corte, foi gravado na rua José do Patrocínio, em frente ao Galpão, no bairro Porto. Confira:

Meados de 97

“Picos de meados de 97, a RD e um chavete, as coleção de quepe, as calças largas e os dreads. Essas paradas que ninguém esquece. Assim nasceu uma das siglas mais pesadas do RS”, contam os primeiros versos da segunda faixa.
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Em 1997, Guido foi um dos fundadores da Banca CNR, um dos grupos mais duradouros e bem sucedido do Rap gaúcho. De lá pra cá, Guido lançou vários discos, mixtapes, coletâneas, seja por sua carreira solo, com a Banca CNR ou outras parcerias. Nasceram assim alguns dos maiores clássicos do Rap pelotense: ‘Soldado cansado’, ‘Prisão’, ‘Coração na Forca’, ‘Ouro e Diamante’.
Boa parte desses sons já estão disponíveis nas novas plataformas, como Spotify. “Eu estou trabalhando há pouco tempo nessas plataformas e pretendo colocar tudo. Inclusive no YouTube, que tem músicas mais antigas que a galera pede”, explica Guido.
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A Blazer agora é minha
 
A segunda faixa do disco, ‘Blazer’, é uma versão para um som do grupo Calibre 12 Máfia, que marcou época na Pelotas dos anos 90. O grupo é apontado por Guido como a sua maior referência. Abaixo ele conta resumidamente a história de como conheceu a música e como ela fez a diferença na sua vida.
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“Eu me encontrei no rap principalmente quando ouvi Racionais Mcs. Foi em um programa chamado Som da Cascata, onde também ouvi uma música de outro grupo, chamada ‘Blazer’. Eu, naturalmente, achei que a música fosse de algum artista de São Paulo. Só ouvi que o nome do grupo era Calibre 12. E nisso, no calçadão de Pelotas, eu vi um cara com uma jaqueta grafitada com o nome Calibre 12 Máfia. Eu abordei aquele cara. E esse cara é o Jair Brown. Eu perguntei se ele conhecia esse grupo e outras músicas deles. Ele disse que sim, que esse grupo era dele, que esse grupo era de Pelotas.” 
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Esse encontro marcou a vida e, talvez, o destino de Leandro. “Nesse momento me de um plim. Se esse cara fez uma música tão boa, por que eu também não posso fazer? Assim surgiu a ideia de eu começar a compor”. Além disso, Jair Brown e o seu grupo seriam importantes ainda no decorrer da carreira do rapper. “O primeiro a abrir um espaço pra mim em um palco foi o Brown e Calibre 12. No show que eles abriram pro MV Bill e me chamou pra participar com uma música do meu grupo”, recorda Guido.

Ao compartilhar a nova versão para a sua ‘Blazer’, Jair Brown Correa brincou: “um dia ela teria que trocar de motorista, né?”. Ele contou ainda: “Essa música nasceu no morro do mix, situado na Cohab Guabiroba. Como várias outras, ela tem uma história real, de manos que sempre juntos escutavam um som ao pé da árvore ao lado da casa do falecido seu Chiquinho, como era conhecido, e de onde saíram várias rimas e muitos sonhos que se realizaram ou que acabaram”.
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A vez é da molecada 
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Da mesma forma que Jair Brown foi uma referência e inspiração para Guido, ele e a sua Banca CNR inspiraram e serviram de base para vários rappers da cidade. “O próprio Zudizila, eu chamei pra participar da Banca CNR. Vi todo processo de crescimento dele. Sei que maior parte disso foi pela dedicação dele mesmo, mas uma grande parte foi também de influência minha e da Banca CNR. E é gratificante ver ele, e outros caras, que hoje fazem música e fazem a diferença na vida de outros moleques mais novos”, conta Guido. “É bom saber que a gente abriu portas e plantou uma esperança”, resume.
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Sobre estar há tanto tempo na ativa, Guido confessa: “Não esperava ter toda essa continuidade. São mais de 20 anos e vivendo o Rap todos os dias, trabalhando com o Rap todos os dias”. Ele acredita que o segredo está em saber regular bem a balança entre evolução e essência, além de entender que a cena muda: “A era agora é da molecada mesmo, e a gente se torna um intruso”. Alguns destes novos nomes do rap pelotense marcam presença neste novo disco. O mais novo deles, W. Kenny-G, é filho do Guido e participa na faixa ‘Sucessor’. “Acaba que a gente ensinou e hoje a gente aprende. A cada dia que passa, eu aprendo coisas novas”.

Mantendo legado vivo

No último mês de setembro, Pelotas perdeu o rapper Fill de 28 anos. Para Guido, no entanto, além do artista, parceiro de rima, a perda também foi de um grande amigo, Filipe Fontoura. “O Fill e eu sempre tivemos uma relação de irmãos, ou de pai e filho. O Fill sempre vinha falar comigo, pedia uns conselhos. Sempre quando ele estava na pior ele me chamava. Sempre teve a confiança em mim. Sempre teve o respeito”.
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Neste disco, há duas participações de Fill. Uma na faixa ‘Má Influência’, que também conta com Pepzi, e outra na faixa ‘Último Suspiro’ que encerra o disco prestando uma homenagem. “Foi uma ideia que troquei com ele, um ou dois dias antes dele falecer e eu resolvi colocar na música. É importante a gente entender que os amigos pedem ajuda mesmo que indiretamente”.

Guido conta ainda que Fill deixou vários materiais, entre músicas, áudios e vídeos. Com aval da mãe e da família, vários destes materiais ainda devem ser lançados. “A gente tem o projeto Poetas do Fundo do Poço, que vai seguir com várias participações dele ainda. E estamos planejando lançar um disco dele, e algum videoclipes”.

“Eu sempre achei ele um dos caras mais talentosos de todos nós. De todos MCs que conheci, ele foi e é o cara mais talentoso. E eu acho um pecado um trabalho que recém tava começando a ter uma visibilidade nacionalmente, acabar com a morte dele. Acho que isso não vai acontecer, pelo contrário. Porque a música eterniza o ser humano”, complementa Guido.

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