Livro: Pelotas dos excluídos de A.F. Monquelat tem lançamento na cidade


Pelotas dos Excluídos (subsídios para uma história do cotidiano – primeiro volume), editado pela Editora Livraria Mundial, com lançamento previsto para o dia 22, às 18h, na Biblioteca Pública Pelotense.

O passado de Pelotas é uma ficção sob o ponto de vista histórico?
Até bem pouco tempo atrás eu não cogitava pensar nesses termos.

A.F. Monquelat - Foto Manoel Magalhães

A . F. Monquelat, pesquisador da história pelotense, tem muito a ver com o abalo, digamos assim, de minhas convicções sobre a história da cidade (ainda que não fossem ingênuas) e, creio, com a presunção da maioria dos cidadãos, cuja crença em seu passado estava plenamente sedimentada.

Em cima de inverdades, mas ainda assim sedimentada.

Pacatamente sedimentada.

Seu livro Desfazendo Mitos (Notas à História do Continente de São Pedro), em coautoria com V. Marcolla, lançado em 2012, selo da Editora Livraria Mundial, fez a nave de minha arraigada crença no passado da Princesa fazer água.

Senti-me aturdido. Aturdimento convém frisar que se abateu sobre tudo e sobre todos que, como disse, tinham certezas quanto ao nosso passado, acomodados sobre mentiras, rendendo homenagens às pessoas erradas…

Aos barões e baronesas erradas.

Pois Desfazendo Mitos, partindo de evidências documentais, questiona a história que todos nós conhecíamos, ponderando que a riqueza pelotense, digamos assim, não partira tão só do empreendimento de José Pinto Martins, português nascido na freguesia de Meixomil, tido como um dos fundadores de Pelotas no ramo saladeiro, mas, também, da atividade agro pastoril, esquecida pela história oficial.

Pois Monquelat retorna com outra obra não menos explosiva.

Trata-se de Pelotas dos Excluídos (subsídios para uma história do cotidiano – primeiro volume), editado pela Editora Livraria Mundial, com lançamento previsto para o dia 22, às 18h, na Biblioteca Pública Pelotense.

O autor, através de pequenas notas de jornal (de março de 1875 a 13 de maio de 1888), edifica fascinante inventário dos excluídos (negros, prostitutas, arruaceiros, policiais, cidadãos comuns, feitores, capitães de mato, ladrões e aventureiros de todas as cores e matizes), moradores de uma cidade que inicialmente fora conhecida como Pérola do Sul (analogia com a ostra que guarda dentro de si riqueza?) e, posteriormente, Princesa do Sul (mine corte), suprimidos da história oficial da urbe mais negra do estado.

Deduz-se do livro, entre outras leituras, que o quadrilátero mais importante da Princesa, construída, segundo o autor, “por um conjunto de incógnitas”, não é o entorno da Praça Coronel Pedro Osório, mas o Mercado Público, hoje Mercado Central. Neste local, além dos comerciantes estabelecidos, havia a presença dos consumidores e de uma gama de pessoas pouco recomendáveis, que “empesteavam” o logradouro.

Portanto, para se diferenciar daquele cenário fétido, os “maiorais”, moradores do outro quadrilátero, com a ajuda dos vereadores da época, tendo como objetivo aformosear o local, fizeram leis para viabilizar a cobrança de impostos (arrancar dinheiro da população pobre).

O coração da Princesa ficou bonito e o restante da cidade extremamente feio. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência.

A obra de Monquelat, assim, é um rico painel da vida miúda da Pérola do Sul que se fez “Princesa”, cujo trono foi erigido sobre as mentiras do passado, que avança pelo século XXI titubeando, vacilante, tentando encontrar seu caminho.

Um caminho difícil, aliás.

Afinal, sendo complexa equação (definição do autor), urge a necessidade de equacioná-la. Mas a qual Pelotas ele se refere? Como bem definiu, a cidade “é o resultado de conflitos e contrastes, em uma espécie de sístole e diástole, havidas, em especial, a certa altura de sua história entre várias outras Pelotas”.

Pelotas dos Excluídos (subsídios para uma história do cotidiano)
264 págs.
Editora Livraria Mundial
R$ 39,00

Já à venda na Livraria Mundial
Também pode ser adquirido pelo site AQUI.

Texto de Manoel Magalhães
Fonte: cultive-ler.com