O Socorro


lua

– Sabe o que eu adoro fazer?
– O quê?
– Eu escrevo, cuidadosamente, pequenos poemas em folhinhas de papel. Neruda, Vinícius, Yeats, Leminski. Depois, vou à biblioteca e os deixo dentro de livros.
– Interessante.
– Deixo em livros que não falam de amor, de medo, sol, alegria, sorrisos, mas sim de números, códigos, fórmulas. Livros opacos.
– E porque você faz isso?
– Porque as pessoas não são felizes.
– Não são?
– Não, a lua me disse.

(Silêncio)

– Você fala com a lua?
– Sim. Ela me olha bem nos olhos, e então, todas as noites, me conta o que acontece e o que acontecerá.

(Silêncio)

– Mas me diz, o que você sente aos espalhar os poemas?
– Sinto um alívio, uma esperança. Sabe quando você grita em um sonho, mas grita bem alto, e ninguém escuta? Os corações das pessoas estão gritando também.
– Gritando?
– Sim, não está ouvindo?

(Silêncio)

– Não está ouvindo??

(Silêncio)

– O que eles estão gritando?

– Que eles querem morrer.

Isis Araújo