“Os Brasileiros e o hábito da leitura” ou “A incompetência do Sistema Educacional”
Mais da metade dos brasileiros não leram um livro, não foram a qualquer espetáculo de música, dança ou teatro, nem visitaram mostras e sequer assistiram a filmes no último ano, segundo dados divulgados pelo Ministério da Cultura em outubro, pelo Anuário de Estatísticas Culturais 2009. Falta de dinheiro? A justificativa dada por 57% dos entrevistados foi a “falta de hábito”.
O brasileiro não lê porque não o acostumaram a ler. O preço do CD é equivalente ao do livro e, no entanto, vendem-se CDs aos milhões! Não podemos esquecer também das bibliotecas onde um livro não custa nada, além dos “sebos” onde se pode adquirir raridades por preço irrisórios.
Na verdade, a grande maioria dos brasileiros não lê porque na escola não o ensinaram a ler – no sentido mais profundo da palavra – ou seja, apreender o que está escrito, refletir, questionar, “viajar” com um texto.
Obrigar o aluno a ler um livro de literatura com a obrigatoriedade de responder a um questionário, fazer o aluno decorar escolas literárias e todas as suas características sem nunca ler uma obra sequer de um dos autores que dela fizeram parte (e o que importa é saber as questões que vão cair no vestibular – e para quem tem acesso ao vestibular) é decretar uma sentença definitiva: – Você nunca será um leitor. Um pequeno assassinato que deveria ser severamente punido.
A indústria da educação brasileira peca na formação humanística; a compreensão do mundo através de sua história não está em questão, a questão é “passar ou passar”. A leitura deveria ser passada para a criança e adolescentes como uma busca, uma ação lúdica e prazerosa.
Todos aqueles que já descobriram o prazer da leitura jamais abrirão mão dessa “descoberta”. É um vírus que, uma vez contraído, não tem mais cura. Só mesmo o portador desse vírus sabe avaliar a diferença entre a “viagem” da leitura e a cena dada pronta, como a daquela via TV. Assistir TV é cômodo e chega a ser hipnótico. Recebe o prato feito, não tem possibilidade de criar, de imaginar, próprio do ser humano – e que os meios de comunicação de massa encarregaram-se de destruir. Ninguém é o mesmo depois de ler um bom livro, ninguém sai ileso dessa empreitada. A literatura modifica, transforma, porque faz refletir e sonhar. A televisão, ao contrário, foi feita para não dar tempo de pensar;
Quem ainda duvidar, tente ainda hoje: troque uma hora da televisão pela leitura de algumas páginas da melhor literatura. O resultado será altamente compensador.
O livro aberto e a vida recriada.
[Jorge Luís Borges]
Isis Araújo
Cult Produções
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.