Pelotas “Nua por dentro do couro” na tela do Festival de cinema de Brasília


Texto: @LuciahTavares

A 47º edição do Festival de cinema de Brasília que começou no dia 16 e estende-se até o próximo dia 23, na capital do país, terá em meio a sua vasta programação um curta filmado em sua íntegra na cidade de Pelotas. Numa co-produção que uniu uma equipe proveniente de diferentes partes do país. Pelotas chega as telas do planalto central através do olhar do jovem cineasta maranhense Lucas Sá, diretor e roteirista do curta-metragem “Nua por dentro do couro”, produzido pela Mood Films, do Maranhão, Likes filmes de São Paulo e Galo de Briga Filmes de Porto Alegre.

A mais importante e tradicional mostra competitiva de filmes do cinema Brasileiro, abre espaço não apenas para as mais diversas formas de expressão através da sétima arte, como um respiro, nos faz recordar que nem só de cenas protagonizadas por políticos vive a capital nacional.

Com larga programação recheada de filmes, exposições, diversas mostras, debates, seminários. O festival este ano prioriza o trabalho de coletivos de cinema do Brasil. Segundo Sara Rocha, coordenadora adjunta do festival

“Os filmes foram escolhidos pela qualidade artística e de linguagem.”
O diferencial do festival este ano está no fato da expansão para outras cidades além do plano piloto. Propiciando ao público o acesso não apenas aos filmes, mas também a encontros, palestras e cursos.

Com a inauguração de um projetor digital a abertura do festival aconteceu no Cine Brasília com o clássico do cinema novo, que está comemorando cinqüenta anos, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha.

No dia 20, às 20h30’ no Cine Brasília, o público do cerrado poderá render-se a atmosfera bucólica da Pelotas, que estará na telona concorrendo ao calango, estatueta do festival, que faz alusão aos nativos do distrito federal.

“Nua por dentro do couro”
“Nua por dentro do couro” foi filmado na íntegra em Pelotas, no final de novembro de 2013 , dando ênfase não as locações tradicionais como a singular arquitetura neoclássica do município. Entre as locações, o banheiro do DCE, o supermercado Guanabara, um apartamento do prédio que encontra -se ao lado do ICH, condomínios de apartamentos.”

Segundo palavras do cineasta:
“…foram vários lugares, pequenos cômodos e lugares específicos de cada locação, mas tudo em Pelotas.”

Lucas Sá chegou em Pelotas em 2011 para estudar cinema na UFPEL, e irá concluir o curso no final deste ano. Como maranhense, habituado as altas temperaturas do extremo nordeste teve que adaptar-se ao frio e ao sotaque. Ao conversar com o E-cult, num bate-papo que por si só daria um filme, me contou detalhes da produção e as expectativas frente a trajetória do filme que estará também no 25°Festival Internacional de Curta Metragens de São Paulo, 21°Vitória Cine Vídeo e 16° Festival Internacional de curtas de Belo Horizonte.

“Alguns dos atores e parte da equipe são de Pelotas, a equipe de fotografia e coloração de Porto Alegre, do Maranhão veio parte do investimento para o filme(e eu), e de São Paulo a outra parte e a atriz Gilda Nomacce. É uma verdadeira mistura mesmo.”

Quero entender como se deu esta mistura e se tem haver com o TCC da faculdade, mas Sá categórico me conta que fez parte de uma disciplina do curso de cinema e embora tenho sido realizado dentro da universidade foi sempre encarado como algo à parte da faculdade.

Digo-lhe que o nome do filme me remeteu ao filme de Pedro Almodóvar, “A pele que habito” (2011) e lhe questiono a respeito da inspiração que deu origem ao curta.

“Pele- couro…lembra mesmo!”
E revela que foram várias as suas referências, entre elas “ O Homem de Palha”(1973) e do filme “Possessão Possessão” (1981) do polonês Andrzej Zulawski. E completa dizendo que:

“ já o tinha em mente há cerca de cinco anos, mas nunca o colocava em prática. Fiz o curta mas daqui a uns dois anos pretendo fazer um longa-metragem, ampliando mais o roteiro e explicando as lacunas.”

Recebo a ficha técnica que se segue logo abaixo sem a sinopse insisto, o que me envia pó e-mail é:

“Ela protege sua carne, mas o couro começa a cair.”
Não nego que sinto diante desta sinopse uma lacuna tão imensa quanto a distância de uma viagem de Pelotas ao Maranhão… Minha terra nua por dentro do couro numa tela gigante… e não falo aqui apenas como boa pelotense que percorreu várias vezes este trajeto, mas da maravilha de ser artista neste vasto coletivo de nome Brasil…que o cerrado renda-se a esta nudez, e que Deus, o diabo e os calangos todos da terra de sol estejam conosco, daqui até o planalto central.

SERVIÇO

Mostra competitiva de curta-metragem
“Nua por dentro do couro” (2014) de Lucas Sá. Com Gilda Nomacce, Miriã Possani, Lia Gonçalves de Azevedo, Tais Galindo, Dagma Colomby, Marcela Bueno e Teci Jr. Pereira. Ficção,, cor, 21 min., 14 anos.
Cine Brasília, 20 de setembro de 2014 às 20h30’
(R$6,00 e R$12,00)

Na rede:
Para conferir a programação completa do Festival de Cinema de Brasília acesse a página: http://www.festbrasilia.com.br/

Para ver o teaser de “Nua por dentro do couro”: https://vimeo.com/102321173

Para acompanhar a trajetória do filme: https://www.facebook.com/nuapordentrodocouro

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Luciáh Tavares é correspondente do e-cult Mídia Ativa, atriz profissional, dramaturga e blog writer. Cursou Bacharelado em Interpretação Teatral na UNIRIO- Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro.