Pintora, serigrafista, escultora, desenhista, tatuadora, poetisa, canceriana com ascendente em Áries, feminista e artista.
Jéssica Fernandes da Porciúncula, 24 anos, é um universo inteiro em uma pequena porção – ela mesma conta que seu sobrenome tem esse significado. Estudante do curso de bacharelado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas e, atualmente, participante da Casa Cultural Las Vulvas, a interiorana de São Luiz Gonzaga respira a arte desde menina – seu pai é artesão e sua mãe pinta tecidos. Confira a entrevista realizada com a artista.
Por Calvin Cousin e Gabriela Schander
e-cult: Como surgiu teu interesse pela arte?
Jéssica Porciúncula: Desde criança eu sempre gostei de arte. Durante o colegial, eu cheguei a trabalhar em alguns estúdios de fotografia na cidade onde eu morava, além de desenhar sempre em casa, mas eu nunca tinha pensado na arte como uma profissão. Eu sempre gostei de ler, escrever e desenhar, então esse perfil acabou se criando na infância, esse gosto pelo fazer mais manual, mais poético, mais artístico.
ec: E tu costumas trabalhar com quais materiais?
JP: Eu trabalho com vários materiais. Sempre procuro experimentar ou aprender uma coisa nova, mas a essência, para mim, é o papel e caneta, eu estou sempre desenhando. Qualquer outro trabalho que eu vá fazer, mesmo que não seja um móvel, por exemplo, antes eu vou desenhar ele nos meus cadernos. Então, eu tenho um apego muito forte com o desenho e com a escrita, mas fora isso eu trabalho com madeira, xerox, colagem, estêncil, gravura, alguns trabalhos em cerâmica e também estou com um estúdio de tatuagem.
ec: Quais temas tu costumas abordar no teu trabalho? Tens alguma inspiração?
JP: Não sei se tenho uma grande inspiração, eu vejo mais como uma poética, alguma coisa em comum no meu trabalho que eu já percebi que acaba sendo comum em vários outros trabalhos meus de forma inconsciente. Eu gosto muito de relacionar coisas com o universo, que dão a entender o quão pequeno nós somos diante dele e, ao mesmo tempo, o quão grande são as nossas decisões e o quanto elas afetam o mundo assim como ele nos afeta. Também gosto de ir ao significado das palavras, tenho um apego muito forte com a linguagem e com o que as palavras podem significar em certos contextos.
ec: Como tu enxergas o cenário em Pelotas pro artista independente?
JP: A gente tem que correr atrás, pois a cidade em si não sustenta isso. O que sustenta a cultura, nesse ponto de vista, é a universidade, mas universitário vem pra cá, fica quatro ou cinco anos e vai embora. Eu vim para cá em 2012, já passei desses quatro anos, então já dá pra ver a movimentação do pessoal que fazia o cenário cultural. As pessoas vão embora e surgem, aos poucos, outros grupos, outros coletivos e fica sempre assim, como se fosse uma maré.
ec: Qual acreditas que seja a importância do empoderamento feminino na arte?
JP: Historicamente, mulheres vêm sendo oprimidas desde sempre e desde sempre temos homens no poder. Ser alguém que acredita, que age e que promove oportunidades para mulheres se expressarem é conseguir quebrar um pouco o machismo da sociedade. Os móveis aqui da casa foram feitos por nós mesmas, e na história da arte a gente só estuda sobre homens. Tudo o que a mídia nos apresenta é uma ideia de mulher que não é real, que foi escrita e pintada por homens, o que acontece desde que se começou a desenhar as primeiras mulheres e apresentar como devia ser seu corpo e como deveriam viver. Esse “empoderamento” é dar a voz para que uma mulher fale e faça por si. É colocar mulheres no cinema, no jornalismo, no teatro, em cargos de poder.
Dicionário Porciunculês
O trabalho de Jéssica vai para além da poesia – ela mistura linguagem, contextos e significados que produzem sentido às suas criações. Relacionando o universo com a natureza das situações cotidianas, a artista tem uma gama de palavras que ela toma como norte para retratar sua realidade. A seguir, estão algumas dessas palavras que dão sentido aos trabalhos de Jéssica e o desenho de uma delas.
INFRA-ORDINÁRIO – algo que está tão intrínseco à rotina que passa despercebido. “É como aquele desenho na parede do trabalho ou uma pichação num muro que as pessoas passam todos os dias e as pessoas não percebem.”
INFINITESIMAL – termo matemático para se referir aqueles objetos que tem corpo de massa tão pequeno que não pode ser medido, porém é maior que zero. É algo tão pequeno que não há como medir, porém sabemos que esses objetos de fato existem.
PATAFÍSICA – área da ciência que estuda as exceções. É a ciência do imaginário porque de certa forma não se faz ideia do porquê que existem certas exceções.
PORCIÚNCULA – termo para definir o diminutivo de porção. É a parte menor de algo.
Jéssica Porciúncula, no Facebook: www.facebook.com/jess.porciunculaa
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Calvin Cousin é estudante no sexto semestre de Jornalismo na UFPel. Não acredita em horóscopo, mas é aquariano com Vênus em Peixes
Cultura a Três é uma parceria entre o site e-cult, tr3s Comunicação e a Universidade Federal de Pelotas. O projeto tem como objetivo ser uma oportunidade aos estudantes de Jornalismo que buscam experiência na área cultural, tão rica em nossa cidade.
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