Romeus – Crônica por Charlie Rayné


– Errado. Não é isto.
– Deixa eu ver… Comestível?
– Não. Errou, como sempre. Você sempre erra! Tapado!
– Tapado? E você é um espertalhão, Romeu!

Ele tirou da mochila um arsenal. Dentre os vários badulaques como camisinha, creme de rosto, chicletes e cadernos de aula, um pacote pequenino.
– Que bagulho pequeno!
– Dizem que nos menores embrulhos estão os melhores presentes.
– Não é aquele lance de frascos e perfumes que se diz?

Silêncio mortal. O rosto de Romeu escurece. Não foi por causa da famosa chatice dele em contrariar. Antes fosse. Era aquele barulho de sempre.
– O que foi?
– Ele chegou. Desembrulha isto de uma vez.
– Mas já?
– Não podemos esperar!

Diante dele aquele antídoto contra o mal que os cercava. Para a intolerância. Para a descrença no amor deles dois. Para chocar a humanidade mais próxima. Para cessar tudo.
– Calma. Estamos trancados. Comece primeiro!
– Eu? Por que eu?
– Porque você é mais velho. Porque você sugeriu este caminho…
– Por que você terá mais tempo para desistir?

Toc, toc. O outro bate, insistente. O outro brada, inconveniente como sempre:
– Abram a porta! Abram! Moleques!
– Vamos! Comece!
– Este troço é ruim para dedéu… Pronto! Agora é sua vez!
– Tire a roupa!
– E você? Não vai beber?

Ele bebe. Tira a roupa também. Um tum, tum, tum vai aumentando…
– Bando de imbecis! Abram esta porta! Vou arrombar.
– Eu sabia que quando eu me apaixonasse por outro alguém, igual a mim, seria assim. Que por mais que se fale em respeito às opções… Que por mais que se diga na televisão, na internet que não somos errados, aqui em casa nunca mudaria.
– Me beija?
– Eu te amo, sabia? E não consigo entender porque não posso te amar…
Beijo. Silêncio novamente. Sem toc, nem tum. Eles se beijam e se misturam.
– Falta de ar.
– Não sei se é nosso amor ou o efeito disto aqui.
– Pode ser os dois…
– A música! Põe a música!
– Onde fica o repeat?

No som, a música fala de um amor entre dois seres iguais também. Uma sirene brada forte e vai sumindo, sumindo, sumin… A música continua. Ela sempre continua.

Romeus – Crônica por Charlie Rayné

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