O Buzz do título acima não é o Buzz Lightyer do desenho da Disney, e na verdade, gostaria de deixar anônimo o nome da série onde conheci esta personagem, e de onde veio hoje a inspiração para este texto, pois se trata de um seriado americano muito do clichê, daqueles que não queremos admitir que assistimos por vergonha alheia, afinal é tipo conto de fadas: as pessoas mesmo sem dinheiro não sabem o que é ter problemas pela falta deste, vivem comendo cupcake e são magros, são todos de olhos azuis sem qualquer tipo de preconceito e sempre, sempre mesmo existe um happy end. Moram em casas incríveis com uma vista espetacular para um mar ainda mais sensacional e vou confessar aqui que a única coisa que me causa inveja na vida são as pessoas que moram com vista para o mar. Porém temos que reconhecer que todos precisamos das nossas próprias válvulas de escape, e uma das minhas é assistir programas onde eu não precise pensar.
Bom, o meu Buzz é um barman, uma daquelas pessoas anônimas que fazem parte do nosso dia à dia e de quem infelizmente às vezes nem sabemos o nome. Na série ele toda quarta à noite prepara o drink certo, sem já nem perguntar qual, e escuta as lamúrias do patriarca da estória.
Quantos Buzz invisíveis existem por aí? Eles nos fazem sorrir, nos escutam, sim, nos escutam e nos apoiam sem pedirmos explicitamente. Eles têm a qualidade inata de saber observar o próximo e ler a sua precisão de uma palavra amiga ou mesmo de um silêncio compartilhado. São como “anjos” do cotidiano e na maioria das vezes nem reconhecemos a importância do bem que fazem, pois são pequenas doses diárias de afeto desinteressado, de uma mera cordialidade e muitas vezes só percebemos a relevância destas pequenas atitudes tarde demais.
Fiquei com inveja da ficção, me senti desamparada, sem ter alguém assim, que me fizesse ser importante, mesmo que por um tempo determinado, querendo tão pouco em troca. Mas eu também queria um Banguela e um Stitch, então acho que quero muita coisa.
A verdade é que às vezes precisamos usar outra perspectiva, temos que mudar a maneira de ler as pessoas, ter um olhar menos excludente, menos discriminatório e desconfiado. Mais sorrisos e menos julgamento. Uma atitude mais solidária, uma postura menos bélica.
Acredito que todos precisamos de um Buzz e inclusive creio que devo ter perdido um na minha terça-feira super atarefada, outro na fila do supermercado, ou que ainda quem sabe na recepção da academia.
Temos que aprender a reconhecê-los e se você achar isto difícil experimente toda quarta-feira ir fazer happy hour em um bar, vai dar certo.
Arquiteta e escritora, conhecida mundialmente no bairro por Guga. Mãe do Santiago, sempre em busca de inspiração, viajante cada vez mais de rotas clandestinas, e ser livre é um destino essencial.
Faça um comentário