Um maravilhoso mundo novo? por Gilda Satte Alam


Estamos na época da expectação. Assistimos maravilhados aos Japoneses que recolhem o lixo que produziram. Exclamamos: “Que exemplo de civilidade”! Mas não nos perguntamos: “Porque não fazemos o mesmo”? Quem vai ao cinema sabe o estado que ele fica após uma sessão e talvez por sabermos que uma equipe se encarregará da limpeza, deixemos no local nossos restos. Há muitos anos, fui pela primeira vez a uma famosa lanchonete e uma amiga, “mais experiente” me disse para recolher meu lixo e colocar na lixeira, depositando, após, a bandeja em local próprio. Efetivamente aquilo era costume naquele ambiente e somente lá.

Nós brasileiros temos o hábito de deixar aos outros, tarefas que bem poderíamos ter o hábito de fazer. E aqui a repetição das palavras foi algo proposital, com o intuito de demonstrar que hábito, além de conscientização, é repetição. Mas mais do que isso é atitude individual, é educação, é disposição. Hoje, jogar lixo na rua ainda é uma realidade e estamos longe de incorporar a coleta seletiva ou a disposição adequada de resíduos, mas já melhoramos, sem, no entanto, deixarmos de nos maravilhar com Japoneses que juntam seu lixo ou com pessoas que ajudam o semelhante em situações de dificuldade. Aliás, este é outro setor onde somos, na maior parte, expectadores. Solicitamos com maestria que alguém faça alguma coisa. Mas quem é esse alguém? Que coisa é essa? Talvez não importe, porque nossa consciência ainda se satisfaz com um protesto na rede social ou com o compartilhamento de mensagens lindas que em muitas situações estão longe da prática.

Talvez os dizeres de paz, de solidariedade ou de compaixão sejam um desejo, um ideal a ser alcançado primeiro por aquele que posta. Quem sabe não comecemos a utilizar as mensagens de paz, amizade ou compaixão para nós mesmos, por que o mundo não se faz com a ação dos “outros” e sim com a ação de cada um nós. Eu vou colocar meu saco de pipocas vazio na lixeira, após a sessão de cinema. Vou recolher o lixo quando eu for tomar mate na praia ou passear com o cachorro. Vou curtir as postagens dos meus amigos, mas antes vou lê-las e refletir sobre elas, quem sabe, incorporando alguma coisa no meu patrimônio espiritual. Mas mais do que tudo isso vou agir com coerência, bom senso e civilidade e assim, quem sabe, eu não me espante mais com a um japonês que junta seu lixo após uma partida de futebol.

Por: Gilda Satte Alam Severi Cardoso