Em outubro, choveu muito em Pelotas. Caminhando nas ruas “o vento encharcou os olhos”, como acontece com Vitor Ramil em Satolep. As condições climáticas foram fortes, intensas, de trovão e temporal. Nesse contexto, a cidade foi palco do retorno de uma das suas principais bandas de rock alternativo. Depois de três anos, a Esquimós voltou com álbum novo.
E numa sintonia mística , “Onde quer que seja onde eles se afoguem, lá é onde eu vou ser mais forte” é primeira frase da música de abertura do trabalho.
Num paradoxo ao caos das ruas pelotenses que se alagavam, o álbum lançado no quarto dia do mês de tempestades leva o nome de Bonança. Com dez faixas, identidade musical e visual que conversam e um conceito que se sustenta harmônico da primeira à última música, não é exagero insistir no clichê da dicotomia e definir o lançamento como um suspiro de tranquilidade da cena indie local.
O experimentalismo que mistura elementos como a psicodelia setentista dos vocais da faixa Terraformação com a pegada lo-fi à la Frank Ocean da faixa Há Um Deserto Dentro de Mim, faz o álbum mais denso do que o anterior- o melódico Âncora, de 2015. No Bonança, as músicas estabelecem entre si uma narrativa tão clara que é impensável pular uma faixa.
Não é como um disco do Arctic Monkeys, que a gente deixa no modo aleatório sem perda alguma, ou alguma coisa de Metronomy, que faz sentido até em som ambiente de elevador. O Bonança rompe a volatilidade dos últimos anos do rock alternativo e reestabelece a vibe do The Dark Side of The Moon ( Pink Floyd, 1973): depois de dado o play, o álbum é uma experiência. A vontade é de deixar o som ali, autônomo para a partir dele assistir as formas visuais que se materializam ao longo do concerto orquestrado por Joaquim Mota (baixo, guitarra e voz), Matheus (guitarra e voz) e César (bateria).
Portanto, ele definitivamente não é uma boa escolha para quem quer uma música que fique no segundo plano da ocasião.
O lançamento suscita uma reflexão sobre o estilo da banda. Será que ainda serve na superficialidade crescente do indie moderno? Joaquim explica que definitivamente rótulos não são uma preocupação da banda. Pelo contrário, ela foi formada justamente para escapar de algumas categorias que entendiaram os integrantes em trabalhos anteriores.
“Somos uma banda de rock alternativo. O que é bem abrangente… Já vi gente falando que a gente é pós-rock, mas até acho isso estranho, não compreendo bem o termo. O rock ainda existe”, diz Joaquim
Até aqui, os anos de silêncio não foram de hiato, nem de ócio. Pelo contrário, foi um tempo dedicado principalmente ao processo criativo. “A gente lançou o Âncora em 2015 e duas músicas em 2016. No Bonança, a gente parou e compôs do zero e também tivemos alguns desencontros por compromissos pessoais. Por esses motivos demorou quatro anos entre os dois. A ideia, a partir de agora, é mudar isso. Manter certa frequência, porque hoje em dia não tem como uma banda se manter assim”, explica Mota.
Segundo o músico, com o novo trabalho finalmente nas ruas, dentro do estúdio, porém, a fase ainda não é de descanso, Pelo contrário, é de mudança. “O Bonança é o final e o início. Fim de uma fase, porque o Matheus saiu, e nova fase porque novas pessoas tocarão com a gente”, conta.
Ficha Técnica do Bonança
Produzido e mixado por Lauro Maia e Joaquim Mota. Gravado e masterizado por Lauro Maia no A Vapor Estúdio, em Pelotas/RS. Arte e projeto gráfico por Ruan Sampaio Leal. Financiamento Procultura/Prefeitura Municipal de Pelotas/RS.
- Bonança
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra, baixo e voz
Matheus Costa – guitarra.
- Terraformação
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra e baixo
Matheus Costa – guitarra e voz.
- Peregrino
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra, baixo e voz
Matheus Costa – guitarra.
- Vai dar pé
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra, baixo e voz
Matheus Costa – guitarra.
- O fim do fundo
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra, baixo e voz
Matheus Costa – guitarra.
- Petricor
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra, baixo e voz
Matheus Costa – guitarra
Participação: Lauro Maia – guitarra.
- O peso dela nos meus braços
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – baixo
Matheus Costa – guitarra e voz.
- O voo e o pouso
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra e baixo
Matheus Costa – guitarra e voz.
- Faz parte do medo
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – baixo
Matheus Costa – guitarra e voz.
- Há um deserto dentro de mim
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(César Gularte, Joaquim Mota e Matheus Costa)
César Gularte – bateria
Joaquim Mota – guitarra, baixo e voz
Matheus Costa – guitarra.
Internacionalista, estudante de jornalismo, sentimental e especialista em Beatles. Não para quieta, caminha correndo e um dia vai fugir para o Uruguai.
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