O Segundo Caderno de ZH desta quarta-feira (4) veio na forma de uma edição especial pautada e comentada por Luis Fernando Verissimo. Respeitado veterano do jornalismo cultural, ele sugeriu algumas reportagens, entre elas uma sobre “a arte de ficar” — a respeito de artistas que optam por permanecer morando em Porto Alegre, como ele.
O músico pelotense Vitor Ramil é um dos casos citados na matéria. Depois de seis anos morando no Rio de Janeiro, Ramil resolveu voltar a Pelotas. Só que o que para muitos seria o fim da carreira artística, para ele foi uma chance de ganhar espaço no cenário musical.
Viver fora traz o desejo de voltar
Por Patrícia Lima, Segundo Caderno ZH
Tem gente que usou a experiência de viver fora do Rio Grande do Sul para compreender que seria mais proveitoso voltar. Foi o caso do músico Vitor Ramil, que, depois de seis anos morando no Rio de Janeiro, decidiu retornar à terra natal, Pelotas, em busca de inspiração. Ele explica parte do processo que o levou a tomar essa decisão em seu ensaio Estética do Frio, publicado em 1992 no livro Nós, os Gaúchos, da Editora da UFRGS.
“Estou no meu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro, de calção e chinelos, assistindo ao Jornal Nacional na TV. Assisto a uma matéria sobre uma festa popular na Bahia. As imagens: um trio elétrico sobre um caminhão arrastando milhares de pessoas seminuas, pulando, suando, bebendo e cantando sob um céu furioso. Não consigo me imaginar atrás daquele trio elétrico. (…) Assisto a seguir a uma matéria sobre a chegada do frio no Sul. Vejo o Rio Grande do Sul. Vejo os campos cobertos pela geada na luz branca da manhã, vejo crianças escrevendo com o dedo nos vidros dos carros, vejo homens de pala andando de bicicleta, vejo águas congeladas, vejo gente esfregando as mãos, gente de nariz vermelho, vejo a expectativa de neve na Serra, vejo o chimarrão fumegando. Seminu e com calor reconheço imediatamente aquele universo como meu.”
Ramil comenta que voltar ao Sul, especialmente para Pelotas, onde nasceu, foi uma decisão artística. Segundo ele, somente aqui seria possível mexer com suas obsessões musicais e encontrar uma forma de expressão única para conciliar o legado regional com a música brasileira.
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