Xana Gallo amplifica sua voz no EP “Roda, Rodou”, produzido por Diogo Strausz


Após denunciar relacionamentos abusivos no último álbum, a artista se empodera em três canções sobre mulher, política e sociedade.

Com participações de Kassin, Patrick Laplan, Stepháne San Juan e mais, Xana Gallo amplifica sua voz no EP “Roda, Rodou”, produzido por Diogo Strausz.

Xana Gallo se apropria da canção como ferramenta de empoderamento. Desde o início de sua trajetória, a artista gaúcha radicada no Rio de Janeiro usa sua voz como instrumento para narrar histórias – seja da mulher, após ter experienciado uma sequência de relacionamentos abusivos; seja da sociedade, como uma cronista que observa as contradições de um Brasil dividido. Ela une essas facetas em seu novo EP, “Roda, Rodou”, que acaba de chegar aos serviços de streaming de música com um time estelar de músicos.

Ouça “Roda, Rodou”: http://smarturl.it/RodaRodouEP

O produtor Diogo Strausz (Alice Caymmi, Castello Branco, Balako) ajuda a trazer à tona três canções que vão de intimistas a um samba escancarado, todas embaladas por Danilo Andrade nos teclados, Stéphane San Juan e Patrick Laplan nas baterias, Tadeu Campany (Rio Pandeiro) na percussão e com a participação de Kassin em todas as faixas no baixo.

“Roda, Rodou” traz as primeiras canções de Xana Gallo após o lançamento do álbum “Rota de Fuga” há menos de um ano. O trabalho anterior, produzido por Eduardo Neves e gravado na Tenda da Raposa, é um relato íntimo de relacionamentos abusivos vividos pela própria artista, servindo como uma forma de encerrar de um longo período de liberdades tolhidas e voz calada. No novo EP, Xana ressurge como dona de si.

“‘Roda, Rodou’ são composições de uma mulher mais madura e empoderada, que aprendeu a dizer não e cada vez mais confia em si mesma e no seu próprio valor. Não sou mais aquela mulher que sofreu calada, sem dizer um não. Agora, sim, sou eu. Livre, como deveria ter sido desde o início. Nada mais vais me calar”, sentencia.

Prova disso são suas novas canções, pautadas por um clamor pela liberdade de expressão frente à guinada à extrema direita que avança pelo país e pelo mundo. “Essa nova onda conservadora está tentando enquadrar atos legítimos de desobediência civil, tais como greves, passeatas e pequenas manifestações, como atos de terrorismo e isso é muito assustador”, alerta Xana Gallo, que usa sua bagagem de socióloga para construir letras ao mesmo tempo poéticas e provocadoras, irônicas e sofisticadas.

É o caso da faixa-título, revelada anteriormente na forma de um lyric video. Num diálogo com as músicas “Roda Viva” e “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, o samba compara a repressão policial nas manifestações de hoje à censura da ditadura. “Compus esta música há uns anos atrás, mas percebi que com o passar do tempo ela foi ficando mais e mais atual. Decidi que estava na hora de lançar”, explica.

Em seguida, “Lá em casa” propõe um exercício radical de troca de lugares no ambiente doméstico, ao responsabilizar o homem por todos os afazeres da casa. “Radical, sim. Alguns senhores nas redes sociais se ofenderam quando cantei esta música pela primeira vez. Mas a ideia é justamente mostrar o quão desigual é a rotina em nossos lares”, ressalta a cantora. As mulheres trabalham, em média, três horas a mais que o homens, diariamente. São 52 dias a mais anualmente, recebendo 27% a menos. De acordo com estatísticas de março de 2017 da ONU Mulher, 39% dos homens jovens brancos e 40% dos homens jovens negros fazem as atividades domésticas. Enquanto 78% das jovens mulheres brancas fazem as atividades domésticas para 86% das jovens mulheres negras.

“Apesar de leve e bem humorada, a letra atenta para a importância da divisão do trabalho doméstico, sendo esta uma das bases para a igualdade de gênero. Ainda é muito desigual essa divisão das tarefas, o que impede que as mulheres alcem voos maiores no mercado de trabalho. Com relação à letra da música, me inspirei naqueles maridos ‘da antiga’ que ficam repetindo: ‘mulher minha isso, mulher minha aquilo…’, e que ainda enchem a boca, com orgulho, para dizer que não fazem tarefas domésticas, que não fritam nem um ovo, que sabem nem como se faz faxina. A música inverte este discurso para chamar a atenção, em forma de choque de realidade, para essa temática”, explica Xana Gallo.

Por fim, “Não rima (Gaslighting)” aborda uma forma de abuso psicológico sutil, porém muito comum, inclusive em ambientes de trabalho. Ela consiste em uma manipulação do discurso e das memórias de uma mulher, de modo a fazê-la pensar que está louca ou sempre errada. Esse tipo de comportamento tolhe sua atitude e gera danos psicológicos.

A artista não se esquiva dos assuntos difíceis. Ainda em seu primeiro álbum, “Mulheres, Sons, Liberdade” (2014), buscou retratar aspectos da cultura negra e das mulheres de sua cidade, Pelotas, dando voz a compositoras da cena local. Além disso, ela desenvolve um projeto chamado “CompositorA”, onde cria canções em parceria com mulheres de diversas cidades, que lhe enviam seus manuscritos (poemas, versos soltos, histórias) por meio das redes sociais, alimentando a importância de contarem, juntas, sua própria história.

Xana tomou controle da sua narrativa, saindo do trauma retratado no seu último álbum, ao se mudar para o Rio. Assim que desembarcou na cidade, ela enviou suas composições para o produtor Kassin, conhecido por seus trabalhos com Caetano Veloso e Los Hermanos, que de imediato gostou de suas canções e lhe abriu as portas do seu Estúdio Marini para que a artista produzisse um EP com Diogo Strausz. “Serei eternamente grata ao Kassin, que é e sempre será meu grande ídolo. Um ídolo generoso e acessível”, avalia.

“Com relação ao Diogo, eu fiquei realmente impressionada com a genialidade, criatividade e também fiquei muito satisfeita com seu trabalho, porque ele fez questão de demonstrar que super havia entendido o que eu estava querendo dizer nas músicas. Ele mergulhou de cabeça em cada uma das questões que levantei e trouxe o universo contido nas letras para os arranjos. Um produtor com muita sensibilidade”, afirma Xana.

A mixagem foi feita pelo próprio Strausz, que também tocou guitarra, percussão e baixo em algumas faixas, e a masterização é assinada por Carlos Fuchs no estúdio Tenda da Raposa. “Roda, Rodou” já está presente nas principais plataformas de streaming de música.

Tracklist:
1. Roda, rodou
2. Lá em casa
3. Gaslighting

FICHA TÉCNICA

LÁ EM CASA
Composição e voz: Xana Gallo
Produção musical, mixagem e percussão: Diogo Strausz
Baixo: Kassin
Teclados: Danilo Andrade
Bateria: Patrick Laplan
Percussão: Tadeu Campany
Eng. de Gravação: Mauro Araújo
Masterização: Carlos Fuchs/ Tenda da Raposa
Produção musical e mixagem: Diogo Strausz.

RODA RODOU
Voz, letra, melodia e harmonia: Xana Gallo
Participação na melodia e harmonia: Eugênio Bassi
Produção musical e mixagem: Diogo Strausz
Baixo: Kassin
Teclados: Danilo Andrade
Bateria: Stéphane San Juan
Percussão: Tadeu Campany
Eng. de Gravação: Mauro Araújo
Masterização: Carlos Fuchs/ Tenda da Raposa

NÃO RIMA (Gaslighting)
Composição: Xana Gallo e Fábio Amaro
Produção musical, mixagem e guitarra: Diogo Strausz
Baixo: Kassin
Teclados: Danilo Andrade
Bateria: Patrick Laplan
Eng. de Gravação: Mauro Araújo
Masterização: Carlos Fuchs/ Tenda da Raposa
Produção musical e mixagem: Diogo Strausz.

EP gravado no estúdio Marini, de Kassin.

Faixa-a-faixa, por Xana Gallo:

1 – Roda, Rodou
Me assusta a velocidade como estamos todos sendo convidados a calar, de formas diversas. É preciso, mais do que nunca, falar e falar muito. Muito mais do que falar sobre números e economia, falar sobre direitos humanos, dignidade humana e justiça social.

2 – Lá em casa
Sabe aqueles maridos “da antiga” que ficam repetindo: “mulher minha isso… mulher minha aquilo…”?? E que ainda enchem a boca, com orgulho, para dizer que não sabem nem como se faz faxina? Com certeza você deve conhecer um. A música “Lá em casa”, ao inverter este discurso ultrapassado, avisa a estes homens que este discurso não cola mais e que eles terão, sim, que dividir as tarefas domésticas.

3 – Gaslighting
Amor não rima com dúvida. Este é o refrão cantado por mim, alguém que já foi algumas vezes vítima de Gaslighting, mas que hoje aprendeu a detectar logo de início e cair fora. Gaslighting é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

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