Xave lança clipe de ‘Piloto’ e promete mixtape na rua em novembro


Foto: Ricardo Candia "Akira"

Novo trabalho do músico será uma compilação musical com inspiração no Jardim Europa, local onde ele é nascido e crescido.

No último domingo (20) estreou nas plataformas digitais de streaming musical e YouTube o clipe de Piloto, do rapper Xave, que promete lançar a sua primeira mixtape, intitulada Fruto do Jardim, ainda em 2020, com previsão para a primeira quinzena de novembro

O videoclipe, filmado nas ruas de Pelotas, foi dirigido e editado por Takeo Ito. A capa oficial do single conta com fotografia e arte de Akira, que também fotografou os bastidores da filmagem. A batida é uma criação do beatmaker SwtJzza, com mixagem e masterização de Zero.

Em uma conversa por telefone, na semana antes do lançamento, a reportagem falou com o Mc, natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, sobre sua trajetória na música, influências, novos projetos e a realidade de um músico independente de uma cidade do interior, longe dos grandes centros “onde as coisas acontecem”.

Confira o bate-papo abaixo:

P. Ienczak: Nessa música nova, que se chama Piloto, qual foi a inspiração para a escrita?

Foto: Ricardo Candia “Akira”

Xave: Na capa do single eu tô ali com uma bike, que representa essa ideia de pilotar, e na letra o que eu abordo é a questão de ser piloto da própria vida, guiar o volante da vida. Quando escrevi eu estava numa vibe de buscar não ter pressa com as coisas, porque às vezes tu faz algo e fica naquela expectativa pra dar certo logo, já fica se cobrando muito. Então eu comecei a tentar só fazer o trampo, largar os trabalhos na rua. Existe aquela cobrança de quando tu chega a uma certa idade, já tem que ter uma casa própria, um trampo, tem uma cobrança. Então uma das ideias que eu trago na Piloto é seguir trabalhando, com menos pressa e cobrança, com mais calma.

P. Ienczak: Como surgiu a ideia para o nome “Fruto do Jardim” para a mixtape, e como é a vivência no Jardim Europa, como te influenciou?

Xave: Justamente por ser uma mixtape, não um álbum, é que leva esse nome de Fruto do Jardim, com a intenção de reunir algumas faixas que não necessariamente dialogam entre si. Pra mim essa é a essência da mixtape, enquanto que em um álbum todas as tracks conversam, pegam um rumo para contar uma história, na mixtape tu tem umas músicas gravadas, em vez de lançar cada uma como single, vai lá e reúne, lança tudo junto. Cada música aborda um assunto, mas tudo fruto do que vivi aqui no bairro, desde pequeno. Jardim Europa é como qualquer outra quebrada, zona humilde, quando chove alaga, barro afú (risos), essas mão assim, de quando tu é mandinho, aquelas brincadeiras de rua. É massa, eu curto mais vila porque tu acaba conhecendo todo mundo, tu te dá com os vizinhos, tem mais proximidade com as pessoas, até porque todo mundo se ajuda. E tem aquilo também, as pessoas que menos tem são as que mais se apoiam.

P. Ienczak: E já tem uma data para lançamento da mixtape?

Xave: Pretendo lançar na primeira quinzena de novembro.

P.Ienczak: E as músicas são gravadas em um home studio, na tua própria casa, ou em algum estúdio fora?

Xave: Para a mixtape eu tenho sons gravados em dois lugares. Um deles é lá no estúdio do Zero, na Vasco Pires. O cara faz milagre lá, sem caixa de som, só um bom microfone e um mic pra gravar, não tem nem espuma (para isolamento acústico), e o homi faz mágica. Foi o Zero que mixou todos os meus sons que tão na rua aí. E outra parte tenho gravado com o Tiu Cris, no Startrack Records.

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P. Ienczak: Massa! E tem um outro som que tu divulgou no stories do Instagram, que vai entrar na mixtape também, que tu comentasse que a letra foi escrita durante um momento difícil da tua vida. Qual é a história por trás dessa faixa?

Foto: Ricardo Candia “Akira”

Xave: O nome da música é “Novembro”, eu escrevi no final de 2019. Na época eu tava numa baita bad, tinha terminado o relacionamento com a minha mina. Aí o Zero surgiu com aquele beat, não sei se tu ouviu, tri sentimental a parada, ai eu disse “esse aí é meu!”, levei pra casa e escrevi a letra da música em dois dias. Foi muito rápido, meu processo de escrita geralmente é escrever um pouco, parar, ler um livro, dar um tempo, depois eu retomo. Eu gosto de estar de bobeira e quando vê vem aquela ideia, e ai eu pego e escrevo, sem forçar. Mas no caso da “Novembro” escrevi rapidão, coloquei tudo que eu tava sentindo no momento. Depois de um tempo passou essa brisa toda, fiquei de boa, voltei com o relacionamento, e a track ficou guardada. O Zero é que curte um monte ela, me pilhou pra gravar e lançar, daí resolvi lançar uma pergunta no Insta pra ver o que a galera achava, e muita gente curtiu a vibe, então vai estar na mixtape também.

P. Ienczak: E como foi o seu primeiro contato com o rap?

Xave: Cara, bem naquela época que tava bombando 50 Cent, Eminem, Lil Wayne, essa geração, meus irmãos escutavam e eu ouvia junto, mas era criança e nem sabia o que era aquilo ainda. Racionais, Gabriel o Pensador, de nacional era o que eu tinha acesso. Mas de gostar e querer fazer rap mesmo foi em 2011, que eu já tava na pilha, e gravei meu primeiro som de estúdio em 2012. Na época aqui em Pelotas teve os shows de lançamento do Guido, da mixtape Fúria, e a Aedyz Crew também tava bombando, a Tropa FDG, e eu era novão né, eu colava e era a [avenida] Bento [Gonçalves] lotada, os mano cantando, e um monte de gente cantando junto. Eu via os guri tudo novão, cantando e todo mundo acompanhando, foi no que eu brisei e me interessei a cantar também. Antes de tudo isso eu também curtia a MTV, tive até minha fase de Justin Bieber e Restart, isso até nunca contei pra ninguém… (risos)

P. Ienczak: Cara de repente essa informação vou vazar junto com a entrevista então (risos). Mas e de inspiração pra compor, tem alguém que tu citaria?

Xavier: Nessa época da MTV eu também conheci o Ogi, o som “Eu me perdi na madrugada”, e depois conheci o cara melhor e curto ele muito, esse lance de escrever o rap contando uma história, algo que pretendo ainda explorar mais nos meus trampos. Makalister eu curto afú, porque ele faz as paradas dele sem se importar com o que as pinta vão pensar, ele cita muitos filmes, que a maioria das pessoas não conhece, que são filmes cult, mais antigos, e ele usa essa referência e azar, quem não conhecer vai lá e pesquisa. É aquilo de compor a letra mais livre, sem se podar. Eu mesmo curto muito anime, às vezes cito nos sons, antes tinha receio de que ninguém ia entender, hoje já não dou tanta bola.

P. Ienczak: E como é o corre de ser um músico independente, fazendo música alternativa, em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul?

Foto: Ricardo Candia “Akira”

Xave: A palavra certa acredito que seja desafio. Tu te desafia a cada vez que lança algo. Tu é desafiado a tentar fazer o teu som chegar lá (no centro do país, no eixo Rio-São Paulo), sem tu ter que ir para lá. Acredito que todo mundo gostaria de fazer o seu dinheiro aqui, em Pelotas, sem necessariamente sair daqui pra o bagulho acontecer. Acredito que o Zudizilla, por exemplo, foi pra lá porque é onde tá a grana, e se ele tivesse ficado aqui [em Pelotas] o trabalho não ia tá girando do jeito que está. Tu faz a parada, tu tem que tá no meio de quem faz, não adianta ficar aqui e rolar pouco movimento de show. Tu estourar em São Paulo, já te faz conhecido em outros lugares, porque os olhares estão todos voltados pra lá, agora se eu lanço uma mixtape e fica conhecido aqui, a galera de outros lugares muitas vezes nem fica sabendo que existe.

P. Ienczak: Eu fico pensando em quantas cidades pequenas e médias, parecidas com Pelotas, têm sua própria cena local assim como aqui, muitos músicos que a gente não fica sabendo…

Xave: Acho tri massa mesmo descobrir essa galera, tanto do Brasil quanto gringa, que é underground, tem um baita talento mas nem tanta visibilidade. Tem um mano mesmo de Porto Alegre, o Lucas Xavier, que tem uma escrita [de rap] que eu curto bastante, bem poética, e nós estamos trocando ideia, pode ser que ele seja uma das participações da mixtape.

P. Ienczak: E como surgiu a tua parceria com o Guilherme Noremberg? Ele produziu boa parte dos teus videoclipes, certo?

Xave: O Guilherme é um cara que me tratou tri bem, me abraçou mesmo e acreditou no meu corre. Ele é um cara que tem bastante referência estética do trap gringo. O primeiro clipe que produzimos juntos foi da música “Hiato”. Na ordem cronológica, se tu for ver o que saiu primeiro, foi o clipe de “Odara”, mas o primeiro que a gente fez foi Hiato, já deixamos pronto, mas saiu depois. O Hiato era o que eu mais tava botando fé, porque eu curto muito a ideia da letra e tudo, e Odara foi algo mais pra chamar a atenção, antes de lançar essa track que era a principal. Odara foi mais despretensioso, gravamos em uma manhã lá na praia do Laranjal, fizemos uns takes na pracinha, pegamos uma cadeira de praia na casa do Guilherme e tipo “vamo dalhe aqui”, e no fim das contas deu tri certo, a galera curtiu. Demos sorte até que no dia da gravação o cara que produz o Jornal do Laranjal tava lá, trocamos uma ideia com ele e até nos apoiou uma divulgação, que ajudou bastante também. Foi uma coincidência, algo que era pra acontecer.

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