Teatro: Murro em Ponta de Faca no Theatro guarany em Pelotas


Foto: Roberto Reitenbach

Com direção de Paulo José e dramaturgia de Augusto Boal grupo paranaense apresenta dois grandes nomes do teatro no Brasil e exterior. No Rio Grande do Sul, espetáculo passará por Santa Maria, no dia 27/10; Porto Alegre, dias 29 e 30/10/ e Pelotas, no dia 1/11.

Foto: Roberto Reitenbach

Após passar pelas principais capitais do país e pelos festivais mais importantes do teatro brasileiro, a montagem “Murro em Ponta de Faca” do Espaço Cênico Produções Artísticas realiza agora uma incursão pela região Sul. Selecionada pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2013/2014 a montagem, que estreou no Festival de Teatro de Curitiba de 2011, leva para os estados do PR, SC e RS um emblemático texto da dramaturgia brasileira escrito por Augusto Boal em 1974.

O espetáculo foi contemplado com um dos mais importantes fomentos de teatro do país: o Prêmio Myriam Muniz de Teatro 2011 de montagem, concedido pelo Ministério da Cultura através da Funarte (Fundação Nacional das Artes). A peça conta a história de um grupo de exilados brasileiros em suas trajetórias pelo Chile, Argentina e França. O espetáculo se confunde um pouco com a própria história de Boal quando em 1971, durante a ditadura militar brasileira, o diretor e dramaturgo, conhecido por ser o criador do Teatro do Oprimido, foi preso, torturado e condenado ao exílio. Tal experiência o levou a escrever o texto “Murro em Ponta de Faca”, que aborda a realidade por ele enfrentada: o afastamento forçado da terra natal, o isolamento e privação do que lhe é familiar, a negação do pertencimento e a vivência com outras gentes e lugares. Quatro anos depois, Boal enviou o texto ao amigo, ator e diretor Paulo José, que encarou o desafio de montar um espetáculo que estreou em 1978 ainda durante o regime militar.

Mais de três décadas após essa primeira experiência, pela importância e atualidade do tema, a produtora e atriz curitibana Nena Inoue, convidou Paulo para uma nova direção, como uma homenagem a Augusto Boal e aos brasileiros que não desistem. Para o diretor hoje existe a prática da filosofia do perdão, do viver e deixar viver. “Eu afirmo que importante também é não esquecer, pois a perda de memória pode nos levar a repetir o erro” argumenta.

Considerando a excelência dramatúrgica e atualidade da obra, a montagem busca estender o trabalho de Augusto Boal e apresenta a temática do exílio – não só a ditadura brasileira, mas também a latino-americana – especialmente às novas gerações, objetivando a valorização da memória nacional e ressalta um período recente da história do Brasil. Em um momento onde o Estado brasileiro finalmente propõe ações sobre o Direito à Memória e à Verdade, através de ações direcionadas, Murro em Ponta de Faca torna-se mais atual do que nunca. “Levar o projeto a todas as regiões do país é uma forma de entender e refletir sobre a história do Brasil através de suas transformações políticas e os rumos da democracia no país. A expressão significa nadar contra a corrente, um ato de resistência. Hoje através da recém criada Comissão da Verdade, da Caravana da Anistia e, outras ações, começa vir à luz o que se calou nos porões da ditadura militar, mas o Brasil continua réu na Corte Interamericana dos Direitos Humanos pelos crimes cometidos no Araguaia e se não vivemos o exílio da década de 70, temos outros tipos de exílios, pessoas morando em locais distantes e sem acesso as condições básicas, como água, saúde, educação, cultura… e isso também é uma forma de  exilar o cidadão”,  explica Inoue.

Além de levar o espetáculo a diferentes públicos nesta circulação, o projeto propõe contato direto com a obra, temática e processos artísticos do espetáculo, promovendo intercâmbios entre artistas e público. “Murro em Ponta de Faca” conta ainda com debates e oficinas em algumas das cidades. Com o tema “Exílios e Pertencimentos” o debate parte da obra apresentada e aborda as diferentes formas de ditaduras e exílios. Os debatedores locais convidados, pessoas atuantes e/ou estudiosos do período histórico abordado, afim de compartilhar olhares, experiências e depoimentos pessoais. As cidades que receberão os debates são: Florianópolis, Foz do Iguaçu, Campo Mourão, Apucarana, Irati e Santa Maria.

Serão 02 as oficinas oferecidas pelo projeto: uma de iluminação e uma oficina livre de teatro. “A luz na cena” será uma aula aberta com o iluminador Beto Bruel, um dos nomes mais importantes da iluminação brasileira, reconhecido internacionalmente. A oficina mostrará passo a passo os procedimentos de cada etapa do processo de criação e montagem de luz de um espetáculo teatral. Enquanto Abilio Ramos e Nena Inoue ministram a oficina livre de teatro abordando, entre outras, técnicas do Teatro do Oprimido desenvolvido por Augusto Boal. As cidades da região Sul por onde Murro em Ponta de Faca desembarca são: Paraná (Foz do Iguaçu, Toledo, Campo Mourão, Maringá, Marialva, Apucarana, Irati), Santa Catarina (Florianópolis), Rio Grande do Sul (Santa Maria Porto Alegre e Pelotas). Este projeto foi selecionado pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2013/2014.

MURRO EM PONTA DE FACA
APRESENTAÇÃO – PELOTAS
Quando: 1/11, às 20h
Onde: Theatro Guarany (Rua Lobo da Costa, 849)
# Apresentação tem entrada franca

Foto: Roberto Reitenbach

Augusto Boal e Murro em Ponta de Faca
Augusto Boal foi atuante no Teatro de Arena de São Paulo, de 1956 até 1970. Criou o Teatro do Oprimido, metodologia cênico-pedagógica internacionalmente conhecida, e segundo Yan Michalski, o “homem de teatro brasileiro mais conhecido e respeitado fora do seu país”. Indicado ao Prêmio Nobel da Paz, em 2008, por seu trabalho com o Teatro do Oprimido; em março de 2009, foi nomeado pela UNESCO como Embaixador Mundial do Teatro.

Murro em Ponta de Faca se confunde com a história de Augusto Boal e do nosso país. A peça, mais do que um relato do Brasil e da América Latina na época da ditadura militar: segue atemporal, ao tratar o exílio, como condição existencial. O decreto do AI-5 (1968) trouxe tempos difíceis também para o Teatro de Arena, em São Paulo, forçando os artistas a atuarem em outros países, Boal se instalou na Argentina, em 1971, quando escreveu sobre a dura realidade dos brasileiros exilados e onde desenvolveu as bases para o Teatro do Oprimido. Cinco anos depois, mudou-se para Portugal e, dois anos depois para Paris, de onde enviou Murro Em Ponta de Faca para Paulo José.

Murro em Ponta de Faca pelo país
Festival de Curitiba (Espaço Cênico). Temporadas Rio de Janeiro (SESC Copacabana e Galpão Gamboa; Temporada São Paulo (SESC Belenzinho); Apresentações em Festivais (FILO – Festival Internacional de Londrina/ Encena Festival de Jacarezinho /PR);

Circulação Nacional Edital Myriam Muniz pelos estados do Paraná (Guaira, Colombo, Rio Branco do Sul); Pará (Belém e São Domingos do Araguaia); Bahia (Salvador/Alagados). Apresentações em Curitiba (Espaço Cênico, SESC Água Verde, SESI/FIEP).

Circulação Fortaleza, Recife e Salvador (edital Caixa Cultural 2012/2013)