Avendano Jr. – Uma história escrita na palheta por Júlia Müller


Avendano Jr - Foto Chico Madrid

Neste mês de novembro, o cavaquinista Avendano Jr. completaria 80 anos.

Dono de uma genialidade musical e simplicidade de ser únicas. É assim que o cavaquinista Joaquim Assumpção Avendano Júnior é descrito pelos amigos e familiares. De Joaquim só tinha o nome, era conhecido mesmo como Avendano Jr., uma das figuras mais célebres do choro no país, discípulo do músico e compositor brasileiro, Waldir Azevedo.

Em Pelotas, os amigos e parceiros do choro o encontravam todas as sextas-feiras e sábados n’O Liberdade, bar do centro da cidade, no interior do estado. A presença do compositor nas boêmias noites pelotenses deixou de ser assídua quando adoeceu e passou dois meses internado na UTI da Santa Casa de Misericórdia, local onde faleceu em 2012.

Foto: Chico Madrid

A trajetória de Avendano Jr. com o cavaquinho começou longe do habitat natural da música.O dedilhar pelas cordas com a palheta iniciou no Exército, com 18 anos, quando o então companheiro de farda, Milton Alves, o ensinou a tocar um violão tenor. Assim, aprendeu a faixa ‘Brasileirinho’. Anos depois, os dois formaram o Regional Avendano Jr., com outros instrumentistas.

As composições de Waldir Azevedo atravessavam as fronteiras dos estados pelas ondas do rádio e despertaram o interesse de Avendano nos solos de cavaco. Nascido em 1939, nunca foi de viajar. “Ele sempre foi caseiro, saia era pra ir no Liberdade”, conta a viúva, Rita Avendano, que mesmo após sete anos da morte do esposo, ainda carrega a aliança de casamento.

A viagem mais longa feita pelo cavaquinista foi de avião, sobrevoando os mais de 2 mil quilômetros que separam Pelotas de Brasília. No Distrito Federal, ele foi conhecer o grande ídolo: o mestre do solo no choro, Waldir Azevedo. Por cartas e telefonemas, os dois firmaram uma “amizade intensa”, como refere-se a esposa.

Em meio a dicas, técnicas e muita conversa trocada, a amizade entre os dois ultrapassava o companheirismo musical. Em 1980 Azevedo faleceu. Sete anos depois, a viúva, Olinda Azevedo, enviou de presente a Avendano o cavaquinho do companheiro. Rita ainda guarda o instrumento, deixando-o conservado contra as marcas do tempo.

Assim traduzi você
Romântico apaixonado, Avendano Jr. era criativo: deu de aniversário para Rita, quando havia recém começado o namoro, um choro. A partitura de “Assim traduzi você” hoje estampa a parede do quarto da mulher, rodeada por fotos e lembranças do cavaquinistan e da relação dos dois. Entre essa e outras composições, Milton o acompanhou fielmente, sempre no Liberdade. “Era uma segunda casa pra gente, nós é que criamos a música ali”, recorda-se.

O reduto do choro em Pelotas
Em 2013, O Liberdade fechou as portas. Para que a história do bar não se perca com os anos, um grupo de pesquisa do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), encabeçado pelo professor Rafael Velloso, trabalha na montagem de um acervo digital sobre os diversos personagens que solidificaram a cultura do choro na cidade.

Em breve, o conjunto de vídeos, fotos e grandes momentos do choro na cidade estarão disponíveis para consulta online.

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