A penúltima página de Zero Hora perde sua personalidade cult – Crônica por Lucian Brum


Ilustração: @james.duarte

Amigos, volto a esse espaço para lhes soprar uma dica: quero que sirvam chopps cremosos no meu velório. Contando também que seja lá após a passagem do cometa Halley. E que estejam na beira de meu caixão esses indivíduos de texto e literatura, assim como beberam na despedida do jornalista David Coimbra.

Todo jornalista é um canalha em potencial. A frase me marcou na adolescência, e sempre tive confiança que ela carrega um tanto de verdade. David Coimbra, no que consegui acompanhar de sua carreira em jornal, foi um canalha, mas também um sábio, polemista, e articulador do diálogo cotidiano. Um cara que viveu, e sobreviveu, agarrado as palavras.

Numa dessas David contou a história de sua primeira máquina de escrever, a mãe havia feito um esforço para comprar, e num primeiro momento, ele fez pouco caso do presente. O desencanto que teve sua mãe o remoeu até as últimas crônicas, se redimiu batendo intensamente na Olivetti Lettera, para vir a ser alguém lembrado por sua escrita.

David Coimbra tinha o gosto por comunicar e trocar conhecimento, algo meio fora de moda atualmente — a penúltima página de Zero Hora perde sua personalidade cult. Sua coluna diária, para muitos leitores, era motivação. Muito obrigado pela dedicação às palavras, David. Descanse em paz.

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